DE JOANESBURGO A LUANDA: África entrou na sala e não tenciona sair

0
IMG-20251124-WA0046
Partilhar

Há semanas que o mundo está a ser obrigado a reajustar o olhar sobre África. Primeiro foi Joanesburgo, agora será Luanda. E quando dois grandes encontros internacionais se sucedem em solo africano, com África a liderar o primeiro e a receber a Europa no segundo, não estamos perante coincidências diplomáticas. Estamos perante um reposicionamento histórico. O continente já não está a bater à porta. Está a ocupar o centro da sala.


POR ALMEIDA SAKULANDA

Na Cimeira do G20, o gesto da África do Sul ressoou para lá das paredes do centro de conferências. Ao destacar o Presidente da União Africana antes de apresentar líderes de grandes potências, Ramaphosa fez ecoar um velho ditado africano: “quem não se valoriza, ninguém valoriza”. África decidiu valorizar-se. E quando um continente decide levantar a cabeça, o mundo aprende a olhar para cima.

Joanesburgo não apenas acolheu o G20. Reposicionou a narrativa global. O continente, tantas vezes chamado quando a conversa já ia a meio, desta vez chamou a conversa, abriu-a e enquadrou-a. África não pediu licença. Agiu. E como diz outro velho ditado nosso, “quando o tambor muda o ritmo, até o vento aprende a dançar”. O tambor africano mudou o ritmo naquela sala. A dança mundial começou a ajustar-se.

E agora, a pouco menos de um dia de distância, os olhos do mundo voltam-se para Luanda. Entre 24 e 25 de Novembro, Angola acolhe a Cimeira África–Europa, num momento que marca 25 anos de cooperação entre os dois continentes. Mas desta vez, não será uma África expectante, à procura de promessas. Será uma África consciente da sua força, munida do impulso político que começou a ganhar rosto em Joanesburgo.

Luanda não recebe uma visita de cortesia. Recebe a Europa num momento em que o mundo compreende que África é peça central de qualquer futuro sustentável. Com o continente a crescer demograficamente, a expandir infraestruturas, a mecanizar produção e a exigir valor acrescentado local, a conversa não será de dependência. Será de parcerias, responsabilidades e benefícios mútuos.

O relatório “State of Africa–Europe 2025” aponta para a necessidade de uma nova abordagem, mais justa e centrada em resultados concretos. É exactamente isso que reflete o despertar continental. África deixou de aceitar que lhe tragam receitas prontas. Quer discutir ingredientes, processos e distribuição. Esta mudança foi iniciada em Joanesburgo e terá continuidade em Luanda.

E aqui entra outro velho ditado africano, daqueles que carregam sabedoria de gerações: “a casa varre-se de dentro para fora”. A África do Sul começou a varredura ao afirmar que África reconhece primeiro os seus. Luanda dará continuidade, mostrando que África não está apenas a exigir respeito fora. Está a organizar as suas próprias prioridades dentro.

Estas duas cimeiras consecutivas, ambas realizadas em África, mostram um continente que já não quer ser apêndice de agendas estrangeiras. Quer definir a sua própria agenda. Quer negociar em pé de igualdade. Quer dizer ao mundo que conhece o seu valor estratégico, económico, político e humano.

E há ainda um último ditado que sintetiza o momento que vivemos: “o sol nasce para todos, mas ilumina primeiro quem tem coragem de se levantar”. África levantou-se em Joanesburgo. E ficará de pé em Luanda.

Não estamos apenas a assistir a um ciclo diplomático. Estamos a testemunhar o início de um novo tempo. Um tempo em que África entrou na sala sem pressa, sem medo e sem pedir desculpas. E tudo indica que não tenciona sair.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *